4 de janeiro de 2015

Passei a Passagem de Ano na Polónia

Agora que a ressaca já desapareceu como se fosse um avião de uma companhia aérea asiática, posso finalmente reflectir sobre a Passagem de Ano (PDA).

Eu passei a minha PDA numa casa-de-campo no sul da Polónia, eu até vos dizia o nome da coisa, mas tem tantas consoantes que a única forma de o dizerem é enquanto gorgolejam.

Estamos a falar de uma casa pitoresca e fantástica no meio de uma paisagem deslumbrante. A neve cobria todo o cenário, árvores e montanhas ao fundo. Mais branco e puro não se encontra, só no saco de compras do Allen Halloween. 

E para aqueles que reclamam do frio que fez em Portugal, aqui o bebé andou em 16 graus negativos, se, por andar, querer dizer que fiquei dentro de casa no quentinho e a beber.

Era eu e mais duas mãos cheias de Polacos (estava sem espaço nas malas). Ia ser uma noite épica, disse eu enquanto aplaudia para dar ênfase ao momento. Infelizmente matei os polacos todos que tinha nas mãos. Tive que mandar vir um avião da Ryanair para substituir os outros. Assim que chegaram, enchemos o frigorífico de vodka, cerveja, comida, mais aperitivos nas mesas, computador e sistema de som topo de gama - estávamos prontos para começar.

O nosso DJ chamava-se Youtube e Spotify e era gerido pelo indivíduo que estivesse mais alcoolizado ou cansado e precisava de sentar. Porque atenção! PDA Polaca não é feita a ouvir música generalista internacional sentado e à conversa, nem nada que se pareça.

PDA Polaca é passada com música polaca, a cantar, a saltar e a dançar! Eu cantei palavras e sons que nunca tinham saído da minha boca. Saltei como um coelho num trampolim que tomou ecstasy (o coelho, não o trampolim) e dancei como se fosse a princesa da noite (se tivesse bebido mais ou tomado o que o coelho tomou, corria o sério perigo de me transformar numa).

As horas passaram a correr, mas felizmente o meu mundo estava em slow-motion, por isso as coisas ficaram equilibradas, ao contrário de mim que não deveria ter misturado o vodka com a minha vida. 

É engraçado passar a passagem de ano na Polónia, porque o ano em si passei-o em Portugal. Não sei para quem o passei, mas espero que trate bem dele.

Durante horas dancei músicas que nunca ouvi, com palavras que nunca disse, com ritmos com os quais nunca me mexi. Enquanto o ânimo e agitação dos demais me contagiava mais facilmente que Ébola num tubo de ensaio enfiado pelo meu rabo acima. Eu estava a ser a polaquizado! Que se dane que neve tanto lá fora que ursos polares andam em trenós puxados por esquimós. Quem raio quer saber que o meu sangue foi substituído por vodka e quando um vampiro tentou chupar-me o sangue apanhou uma grande narsa que se despiu todo (TODO, o meu puto estava maluco) transformou-se num morcego e foi ter a um espectáculo do Ozzy Osbourne (O PUTO TAVA TODO PARIDO) .

Sempre que poisava o meu copo vazio numa qualquer superfície (a minha cabeça incluída) prontamente um dos meus amigos polacos perguntava-me o que é que eu queria beber (isso é o verdadeiro significado de lealdade e irmandade malta colorida). Quando eu respondia "Agora nada." os meus amigos repetiam com um maior ênfase que a nossa mãe quando quer que arrumemos o quarto "Não Pedro, o que é que TU queres BEBER?". Como tinha medo das repercussões e de percussões (cago-me sempre que oiço um solo de bateria) e tenho a coragem de um texugo consultor informático numa pequena-média empresa do Alentejo, aceitei sempre mais líquido no copo e mais ressaca no dia seguinte.

Tinha mais vodka dentro de mim que um frigorífico russo.

Uma passagem de ano polaca é tão energética e surreal que faz o meu stand-up parecer uma aula de Direito Fiscal.

Enquanto o mundo girava (o que, se realmente pensarmos nisso, acontece constantemente pois a Terra está numa eterna volta elíptica), e o som de música polaca, polacos a cantarem, garrafas a partirem enchia o espaço e o cosmos, vi que 2014 me tinha deixado bem, feliz e motivado. 2015 tinha preparado para mim um primeiro dia complicado, com muita água e típico pequeno-almoço inglês, com ovos mexidos e salsicha. Ou o que os médicos britânicos chamam: Como apanhar um ataque cardíaco aos 40 anos.


Hoje estou de volta. Vamos ver como vai ser.