26 de março de 2013

Era um croissant misto e um leite ucal, se faz favor

Esse foi um dos hinos da minha existência adolescente. Um pedido invariável, que servia de Santo Graal para as minhas aventuras de quarta à tarde...quarta, o eterno dia de tarde livre. Eram aventuras pouco rebeliosas, meramente jocosas. A minha rebelião de adolescente não era contra o Sistema, contra os pais, a escola ou algo mais. Foi contra a seriedade, a absurdidade de populares, futebolistas, metaleiros, freaks e outros que tais. Não que não fossem meus amigos, mas nunca fui um deles. Tinha em mim todo um estado de ausência de tudo isso. Não sei se por escolha ou por ser distraído, fiquei mantido de fora até muito tarde, tão tarde que já eram horas de ir para a universidade.

Perdido no meio de uma juventude que não percebia, saltitei anos de puberdade sem me identificar com nada. Sentado a jogar outras vidas mais interessantes, a minha foi uma sucessão de anos escolares e de verões. "Andei contigo na escola? É capaz."

Como adolescente típico de Lagos falhei no principal. Não tive namorada, não andava de bicicleta, não fui a festivais de verão, não faço a mínima ideia de quem é que tem aquela ou outra alcunha, não fui a LOLret, perdi toda uma formatação pré-adultice que foi comprovada por tantos outros rapazes-homens. E que me impossibilitam hoje em dia de saber ser velho.

Tive a sorte de encontrar um grupo de outros que tais, menos ou mais inseridos num ou outro grupo, também queriam um croissant misto e um leite ucal...se faz favor.
Essa malta que moldou o idiota em mim. Quase por acidente, e preso com cuspo e fita adesiva este grupo ficou unido. A união fez a piada e a piada fez a união. Se algo por aí é o culpado de um blog como este existir são os serões passados com rapazes que de tanto gozar, quiseram ser comediantes.

Tenho que agradecer a esses palhaços todos por me terem proporcionado grandes momentos de parvoíce. E agora que tenho um pé na vida de merda que é ser adulto, olho para esses tempos com nostalgia. E todos os dias ao entrar no metro, com os fones no ouvido, olho para todas as faces tristes e cinzentas que se esticam até ao fim do comboio e pergunto-me quantas juventudes estão ali, perdidas. Fechadas entre casacos e cachecóis. Presas ao pescoço com o nó duro da gravata.

Passa um tempo e esquecemos do que devemos manter, celebrar e desenvolver. A comédia que faço hoje é o legado da minha adolescência. E recuso-me a ficar sem ela.

Este blog faz agora um ano, um més e uns dias. Bora lá em frente com isso.

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