29 de abril de 2014

Cartas de Um Urso Apaixonado ao seu Salmão

Querido Salmão,
Vi-te no outro dia, no rio, a nadar contra a corrente.
Não me deves ter visto, estava camuflado de caixote de lixo por entre as árvores (foi o meu tio que ensinou).
Não quero ser esquisito mas... gosto de ti.

Querido Salmão,
Continuo a ir todos os dias mascarado de caixote de lixo para te ver. Os meus primos gozam comigo mas eles também são incultos. Não são como nós. Eu leio poesia ao luar e gosto de dançar. O meu primo, o Toné, é um pouco parvo. Acho que foi por ter batido com a cabeça numa árvore quando era pequeno. Só come baguetes de pasta de atum do Continente. É complicado alimentá-lo, mas a família espera que ele morra brevemente para não nos preocuparmos com ele.
Escrevi-te um poema:

"Ó Salmão,
És giro."

Não sou muito bom a rimar, mas arranjei um dicionário de um humano que comi e penso que me vai ajudar. Tenho que ter mais vocabulário. Os meus primos não gostam de ti.

Beijos.

Querido Salmão,
O meu primo Toné arranjou trabalho no Circo. A famelga está muito feliz. Não só por ele ir trabalhar e ir para longe, mas porque sabemos que ele vai ser mal-tratado. E todos nós, incluindo a Tia Hortense, achamos que ele já merece.
Arranjei um fato e uma gravata. Não consegui pôr as calças, mas a gravata fica-me bem e o fato deu para fazer uma capa misteriosa. Estarei à tua espera quando a lua estiver cheia. Estarei na margem. Como o nosso amor.

Escrevi outro poema:

"Ó Salmão,
És giro."

É igual ao outro, eu sei, mas desta vez usei lápis de cera. Foi uma re-visualização de um conceito já usado. Aprendi esse termo de um hipster nojento que comi. Sabia a soja e ervas esquisitas.

Beijos.

Querido Salmão,
Que mal te fiz eu? Seu sashimi bailarino. A saltitar que nem uma pulga cocainada! Não apareceste, obriguei os meus outros primos a tocarem música clássica enquanto eu, belo que nem um pepino, enfeitado com uma coroa e um vestido cor de rosa esperava-te perto do rio, com um ramo de flores! Também escrevi outro poema, mas agora não to vou mostrar. Na verdade é igual ao outro, mas desta vez foi feito com colagens.

És feio, não gosto de ti.

Mentira.

Gosto muito.

23 de abril de 2014

O Sentido Contrário da Vida

Enquanto monto o meu fiel corcel arco-íris até às portas da vida adulta, gritando e agitando os meus braços como se fosse uma queima de fitas, passo por várias etapas que se não forem chamadas pela nostalgia ébria, vão ficar mais esquecidas que generosidade fora da época natalícia.

Há uma altura em que as tartarugas-ninjas já não são os nossos heróis e somente um desenho-animado à espera de ser explorado por produtores e investidores. Há uma altura em que vestir uma t-shirt específica já não nos dá nenhum super-poder. E, há uma altura em que o amor já não vai ser o verão que nos iludiram a acreditar, mas apenas o que realmente é, uma primavera com chuva.

Mas não desesperem, não é razão para ficarem deprimidos, desiludidos, descontentes ou qualquer outra palavra começada com "de". Todos nós sabemos que essas palavras são as culpadas por desmoralizarem e destruírem desalmadamente qualquer indivíduo.

O que vos apresento é um chapéu parvo!!! Chapéu PARVO e óculos SUPER GRANDES!!! De certeza que vai animar a sua festa/noite/filme pornográfico, com um destes dois utensílios. Mostre aos seus amigos que ainda é aquela alma animada e divertida que era no secundário quando dava bufas com o sovaco enquanto o Professor grita para que acabe a equação no quadro!



No idos anos 20 um grande ancião hindi descobriu que óculos SUPER GRANDES e chapéus PARVOS com guizos ou perucas azuis conseguem aumentar...

...a percepção de diversão de um qualquer grupo de amigos. Hoje podemos encontrar os seus alunos espalhados pelo Bairro Alto e afins, desesperadamente manuseando a língua portuguesa para nos transmitir os ensinamentos de Abhiba Puhntadibuba. Ensinamentos de ouro por 3€. 1€ se a noite já estiver avançada e você estiver na defesa. Dizem as más línguas que Ghandi era um grande rival dos Puhntadibubaístas.

Espante as suas depressões e o vazio existencial dos seus amigos usando um CHAPÉU PARVO e ÓCULOS GRANDES!

"Olha como o João é um gajo divertido e sem problemas!"
"Sim, a beber, dançar e a usar um chapéu parvo e óculos grandes."
"Claramente aquilo não é um pedido de ajuda."

Já Sartre escrevia na sua obra "De chapéus parvos, óculos grandes e do seu contributo para a fuga da agitação interior na falta do sentido na vida". Traduzimos aqui no FOUDASSE PEDRO para os nossos caros leitores:

Fig. 1 - João Paulo Sartre todo besunto de absinto
"Existe, de facto uma ligação inequívoca entre a  compreensão filosófica do que é ser e chapéus parvos e óculos grandes. Não podemos fugir ao sentimento que ab initio nos preenche numa boa noite de galhofa e folia quando, no alto esplendor de uma maratona de canecas de cerveja, nos decidimos a responder à grande pergunta da existência. Qual é o sentido da vida? Bem, caros leitores, pode ser dos três copos de absinto que bebi, mas penso que a resposta está bem à nossa vista e, se formos felizes, está na nossa cara. Falo de chapéus parvos e óculos grandes, c'est ça!".

Fig. 2 - Alexandre O Grande com uma visão periférica.
É sabido que Alexandre O Grande tinha também uma especial atenção por chapéus parvos e, principalmente, óculos grandes.

Alguns historiadores que tomam LSD e snifam coca garantem de pés separados que Alexandre o Grande disse isto antes da sua vitória na Batalha de Gaugamela:

"Que não sejam mais homens, nem mais cavalos e mais lanças. O meu escudo está no meu chapéu parvo e óculos grandes! Persas? Merdas, mas é!"


Por isso, deixe-se de tristeza e de moleza. Os seus problemas não são nada para ninguém. Quanto mais são algo que os seus colegas ouvem antes de espetarem os seus próprios problemas na conversa:
"Sim isso é chato, mas olha que a mim aconteceu uma coisa parecida..."

Deixe de ser uma setup e transforme-se na punchline! BEBA! DANCE! E, se for caso para tal, um pouco de bâton ou um vestido da sua namorada -que o odeia de morte mas que necessita de si para pagar a casa- fazem o conjunto perfeito para uma noite existencio-opressiva.

21 de abril de 2014

Apanhei o autocarro hoje

Um autocarro passa pela vida mais depressa. Pela vida que está lá fora. Enquanto a nossa mantém-se segura e calma. Pouco periclitante, lá dentro.

Tudo passa depressa, tudo passa rápido. Aquando umas paragens foco nos pormenores do casal que discute na rua. Da mãe que tenta colocar o filho quieto dentro do carro. Não sou o único.

Todos que estamos dentro do autocarro estamos a partilhar um momento, e não os conheço. Quase como as minhas muitas curtes de uma noite. Partilhamos um momento, e não as conheço. As caras delas tão sólidas na mente como uma estátua de chocolate ao sol.  Um momento único, não por ser especial, mas por ser finito numa só vez. Não há romance, não é preciso. Já muito faço por romanticizar ou mencionar numa prosa disconecta.

E estamos no autocarro, parados. E a vida corre à nossa volta. Todos desejosos de chegar à nossa paragem, que nunca está realmente perto de onde queremos ir.

1 de abril de 2014

Manifesto Anti-Bruce Lee

ABRACADABRA! Ora aí está algo que te falta. Não sabes nada da magia do cinema e o teu hálito cheira a chulé. Pois é! Nem és chinês nem americano. Mas há duas coisas que és: Sagitário e um grande otário.

Uuuh! Wuaaaah! O que é isto? Gemes mais que uma mulher em trabalho de parto. Estou farto. O teu Kung-fu kung-funde-me e o teu boxe chinês tem tanto de bom como o cu tem de cara.

Os teus filmes são piores que descobrir que se tem sida. Quisera que um dos teus pais a tivesse apanhado e não teríamos nós gramado com a tua obra. Que tem tanto de obra como uma puta tem de dama.

Tanta porrada que deste que não passou de ficção. Uma sempre má filmada cena de acção. E não me venhas com essas filosofias pré-cozinhadas e orientais. Que não nos orientais mais que uma bússola partida. Tu és um restaurante chinês dos demais onde a carne é de rato e solas de sapato são vegetais.

E pára de saltitar sua pulga de olhos em bico. Isso ou veste um vestidinho cor-de-rosa e laçarote, pode ser que assim os ocidentais te respeitem mais. Pseudo-filósofo com pensamentos transcendentais.

Chega, tens que parar!
Acho que já percebeste que me estás a chatear.

Dá-me um minuto, lembrei-me de uma cena tua de acção.
E acho que preciso de vomitar. Gregar e bolsar. Para cima de um dos teus filhos. Um que esteja vivo. Acho que o Walking Dead não contratou o Corvo. Que estorvo. Sim, que não obstante o pai ter morrido, ele foi tão estúpido que para filmar um filme, deixou-se levar com um tiro. Hmmpf, suspiro. Já foi tarde.

Cedo seria teres nascido deficiente, quiçá assim fizesse sentido que a tua falta de jeito a lutar, não fosse mais que a natureza a funcionar.