14 de novembro de 2014

Odisseia na Casa de Banho

Há poucas coisas piores que a vontade de defecar durante um encontro romântico.Assim de memória lembro-me apenas de :

* Ser comido vivo por velociraptors zombies enquanto alguém nos obriga a ver a versão hentai dos nossos desenhos favoritos.
* Ser chamado ao quadro na aula de matemática e reparar que fomos para a escola nus.
* Ser cariciado pelos tentáculos de um polvo. Não devia ter visto aquele hentai.

Mas tirando isso a vontade de purgar a minha cave enquanto um encontro se desenvolve é horrível.
É apenas impossível concentrar-me na história agastada e extremamente detalhada que a personagem feminina à minha frente tão energicamente comunica. Uma das possibilidades é soltar umas quantas bufas ninja enquanto se reclama que o ar condicionado deve estar estragado porque está a sair um cheiro esquisito. 

Cedo tive que concluir o dito encontro, teria que ser para outro dia.
Despedi-me da minha companhia e rumei ao caminho oposto (obviamente não poderia sequer indicar que tinha necessidade de dejectar furiosamente).

O problema é que estava eu em plena Cracóvia e tinha meia hora para ir até ao outro lado da cidade para me juntar a uma festa de aniversário. Não podia voltar até a casa porque simplesmente iria demorar muito tempo. Decidi então procurar o primeiro café com bom aspecto. Entrei num Coffee Heaven, uma espécie de Starbucks. A minha lógica prendia-se ao facto que uma sucursal desta magnitude teria de certeza um lavatório em condições impecáveis. Ha! Ha! Pedro... ha porra ha!

Eu não sei se já compreenderam o quão eu necessitava de purificar as reais nádegas. Como se uma barragem estivesse cheia até cima. A força que estava a fazer para conter esse acidente só é comparável com uma mãe que levanta um carro para libertar o seu filho. No meu caso eu fazia força para não parir nenhum bebé pelo buraco errado.

Como não queria dar muito estrilho e ir a correr mais rápido que o Usain Bolt para a casa-de-banho decidi pedir uma Latte. Isso, um Latte. Párem de rir. Pedi um pequeno latte e logo sugeriram-me se queria um grande só por mais 1 zloty. Eu como tenho a espinha dorsal de uma lesma e fico apavorado com relações comerciais disse logo que sim.

Ainda esperei uns dois minutos pelo café enquanto me contorcia todo. Recebi o latte que por sua vez era maior que as expectativas de uma relação amorosa na primeira semana. Como mais uma vez não queria dar estrilho sobre a minha necessidade de forçosamente emagrecer um quilo, decidi descer as escadas para o espaço "lounge" sentar-me a beber o café enquanto fazia de conta que lia uma resista em Polaco.

Bebi o café o mais rápido que a minha paranóia indicava que eu podia sem que mais nenhum dos cliente pensasse "Acho que aquele gajo quer cagar!" Porque é o que as pessoas pensam quando vêm alguém a beber um café e ler uma revista. Nada diz "Preciso de cagar" como estar sentado confortavelmente.

Despachei-me, corri para cima e pedi a chave da casa-de-banho. Ao que a senhora responde-me "Pedimos desculpa pelo incómodo, mas a casa-de-banho dos homens está avariada." "O QUÊ?" Devo ter dado alguma dica que estava aflito porque dei um murro a uma velha com um bebé nas mãos que passava atrás de mim. A empregada diz então "Mas pode usar a casa-de-banho das mulheres, tem é que esperar um pouco porque está lá uma senhora. "OK!" - disse calmamente.

Tanto eu como o que estava dentro de mim ficámos à porta à espera. E eu não sei, mas a mulher está a demorar imenso... acho que devia estar a mandar um fax do tamanho da bíblia, e ainda não tinha acabado o antigo testamento. Nesse momento a velha com o bebé levantou-se e eu voltei a dar-lhe um soco. Os paramédicos chegaram um minuto depois.

A mulher lá saiu da casa-de-banho e fechou a porta à chave "OBRIGADO" disse calmamente. Deu-me a chave e procedi à abertura da porta. Que não abria. Estava bloqueada. Comecei-me a rir histericamente e chamei a empregada do café e indiquei que a porta não abria enquanto as minhas mãos agitavam como um tsunami. A empregada abriu a porta depois de umas tentativas e eu fui muito calmamente para dentro do cubículo. E meus amigos, assim que dei ordem para abrirem as comportas, juro que ouvi uma orquestra a tocar o hino da Alegria: https://www.youtube.com/watch?v=PfOpAH2dcEY .

Que alegria! Que vida! O mundo é perfeito!!!! PONTOS DE EXCLAMAÇÃO!  Estava no céu. Tinha os olhos fechados e o coração aberto.

E então ouvi alguém a abrir a porta.... esqueci-me de trancar a porra. Olá senhora bonita, isto é um Português.

12 de novembro de 2014

A Este Nada de Novo

Coberto apenas com o espírito lusitano de exploração fui em direcção de Nowa Huta. Cedo fui interceptado por um polícia que me perguntou porque não vestia mais qualquer coisa para além do espírito lusitano.
Eu respondi em bom português (o que foi uma parvoíce já que o policia polaco só falava, no máximo, um português mitra), mas nenhuma justificação chegou ao agente, então tive que vestir mais qualquer coisa.
Aviso desde já que isto de estar num país estrangeiro com línguas estrangeiras e tentar comunicar leva sempre a que se perca qualquer coisa na tradução. Eu já perdi a carteira e um relógio.
Nowa Huta é um distrito caricato de Cracóvia. Foi criado pela U.R.S.S. para castigar o espírito lutador e intelectual dos cracovianos. Mas agora é o distrito mais habitado e parte integral de Cracóvia. Também é a sede dos saudáveis hooligans da zona. Desconheço onde é a fome.
O que tem de interessante é que toda a sua construção (arquitectura e planeamento urbano) é o sonho molhado de um projectista soviético.
O que não tem de interessante é que nem todos os resquícios soviéticos foram apagados, por mais que chamem à Praça Central de Praça Ronald Reagan.
Estou eu a beber do meu cantil de zupa grzybowa quando, do outro lado uma enorme estátua de metal, metade Lenine, metade Estaline surge. A multidão abriga-se nos Bares de Leite e nos fundos europeus.
O Super Lenine-Estaline grita e urre. Destruindo tudo à sua passagem. Eu não sabia o que fazer. Mas felizmente não estava sozinho. Convoquei um meet imperialista no facebook e do centro da praça surgiu um herói! Nem mais nem menos que Ronald Reagan (versão cowboy).
Senti-me aliviado, porque a mera presença do Super Lenine-Estaline já me está a influenciar a comprar o bilhete do avante e eu preciso do guito para pagar os impostos.
Ronald Reagan não veio sozinho, deve ter aprendido com os ciganos. Ao seu lado tinha o Pai-Natal da Coca-Cola, o Palhaço do McDonald’s e a Estátua da Liberdade:
Let’s kick some commie ass!” grunhiu Reagan. O Pai Natal abriu o seu saco e tirou de lá um bastão de aço, dizendo: “Ho! Ho! Santa wants to spill some red ideologist blood today.”, o palhaço cagou na cena e abriu um restaurante na esquina.
Quem atacou primeiro foi a Estátua da Liberdade, invocou o seu direito na cara do Super Lenine-Estaline. Com mestria segurou os braços do inimigo vermelho enquanto Reagan e Pai Natal abriram a cortina de ferro do monstro.
O Super Lenine-Estaline conseguiu ainda ensinar a uns seguidores lusitanos que o seu aproamento da teoria em nada a prejudica. Que feliz que fiquei!
Reagan e o Pai Natal continuaram a encher de porrada o bicho. Eu consegui engatar a Liberdade e agora é a Estátua Libertina. Levantar aquele vestido foi mais fácil que levantar a economia. BA-TCHUM-TCHUM! Eu estudo política bitches!
Eu tirei umas fotos bacanas, mas fiquei sem bateria no telemóvel, depois mostro. Acho que vou fazer uma de Jennifer Lawrence e pôr as fotos online e dizer que não as vi. Mamas e ética, um cocktail do qual, não só me orgulho, como também tenho uma t-shirt para celebrar o facto. Ou o fato. Um deles.
Enquanto isto se passou acho que o palhaço abriu mais uns restaurantes. Penso que até abriu um no meu bolso. Mas lixou-se, que os meus bolsos estão rotos.
Numa marcha triunfal, surgiram tanques ianques a disparar europoupanças para cima do inimigo soviético. O Super Lenine-Estaline comeu aquilo tudo e agora são só euroesperanças.
Felizmente, os capitalistas venceram a luta e a estátua foi desmontada e vendida a turistas ocidentais como souvenir. Um bom capitalista não partilha, faz share.
Um pouco por todo o mundo obesos com ipads celebram e abrem restaurantes de hambúrgueres artesanais.


Eu fiquei com o número da Estátua da Liberdade mas não vou ligar, não gosto de me sentir preso.




5 de novembro de 2014

A ESTE NADA DE NOVO

Assim se passou um mês desde que o real rabo assentou em Cracóvia. Como anteriormente referido, Putin acalmou as suas hostes assim que o Kremlin avisou que Il Potentissimo encontrava-se já a devorar (saladas) russas. Curiosamente, foi só chegar ao Mar Báltico, lá para a zona da Letónia, para o meu amigovski enviar uns quantos caças zelarem pela minha saúde. Putin Flã (é como o chamo), estás no meu .
Até podem pensar que o meu ego está a voar melhor que a última embarcação espacial da Virgin, mas é com boa razão.
O que se vai seguir nos próximos dias, começando hoje, é uma descrição mais pormenorizada do quão fantástica é a Polónia, do quão única e especial é Cracóvia e do quão a Este… nada de novo.
Não dá para explicar como me sinto ao regressar à Polónia. Os cheiros, as cores, o frio, a língua. Estou como gosto. É o meu país. Sim, é meu. A União Soviética já não manda aqui.
Deixo-vos com um retrato meu que ilustra a forma triunfal como defrontei os obstáculos da vida, montando o meu fiel corcel, Carlos Henrique, SA.