Nunca pensei ou ponderei que a melhor cura para mim próprio era não ter tempo para dialogar com o meu consciente. Se eu conseguir dividir-me de mim próprio consigo tirar férias suficientemente grandes para desfrutar dos dias solarengos com uma imperial e uns olhares marotos da loira de olhos verdes do outro lado da esplanada.
A minha consciência é como o amigo que vai engatar erasmus a uma quinta-feira, não come nenhuma, reclama a noite toda enquanto traga jola atrás de cigarro, torna-se deplorável no caminho para casa e depois aparece no dia seguinte a dizer que foi "alta noitada!". A minha consciência já me tentou enganar mais que uma solteira com filhos. E por mim ela só voltava quando tiver dinheiro para psicanalistas ou uma constante ingestão de whiskey do bom e do velho.
É que o barulho lá de fora cria quietude cá dentro e por outro lado o silêncio exterior torna-se numa tempestade interior de memórias e decisões piores que deixar um caloiro gerir uma tenda de cerveja.
E nem sempre consigo abafar-me com ruído. Sou um surdo com acessos de audição.
Os momentos onde parece que a cidade se move sem nos mexermos, onde vemos entidades humanas impermeáveis umas às outras. Manadas de gnus vestidos de fato e gravata, todos prontos a correr para comutar para dentro do comboio.
Mas o pior sou eu.
Ouvir o meu diálogo interno é como uma gigantesca gaivota com diarreia depositar enormes pedragulhos de bosta em cima de um carro acabado de lavar. E custa um pouco a sair se deixarmos aquilo tempo suficiente ao sol a secar.
É isso que a merda faz e nós deixamos fazer. De vez em quando raspamos a trampa do capot do carro, mas na verdade esperamos é que chova para aquilo sair.
Mas a merda não sai sozinha. É preciso fazer força e descarregar o autoclismo logo de seguida. E se for muita merda junta, a porcaria da sanita entope, e acaba por sair mais merda do que a que inicialmente cagámos.
Preciso de papel higiénico extra-suave perfumado.
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