19 de junho de 2013

Subir a Alfama, descer até à Praça

Decidir subir a Sé e ainda mais acima até a Alfama numa noite de Santos Populares não é para os fracos. 
Nem falo na aventura de ultrapassar a enorme mousse cultural de pessoas que enchem as ruas como colesterol na veia de um norte-americano obeso "SUPERSIZE ME BITCH!". 
É preciso mais determinação que a maioria, ignorem as sms dos muitos "Espera aí que já vou aí ter!", nunca acontece. Perdem-se na subida com alguma tasca ou loira estrangeira.

E eu decidi subir toda aquela merda.

Enquanto subia, embatia em tudo o que era gente. Há muito tempo que não sentia o toque humano no meu corpo, nessa noite enfrentei uma espécie de toque humano indiferenciado, mãos e rabos espetados contra mim : "Isto foi um apalpão?".

Ao subir e subir senti-me numa cronologia, seguindo e seguindo de etapa em etapa a ver os sucessos e erros que me passaram pelas mãos. Deixava-os para trás afogados em cerveja e fui subindo e subindo até chegar ao topo. 

"Eu lembro-me de ti de algum bar, acho..."

E ao chegar ao topo, o arraial já estava a acabar. Cansado da jornada, abasteci-me e continuei a ver a longa lista de erros e asneiras que ficaram pelo degraus.

Imediatamente desci até à Praça do Comércio, onde, à beira Tejo, vi o Sol nascer, com uma mensagem de um novo dia e uma nova folha branca e pura, pronta para ficar cagada e cheia de rabiscos e notas. 

Humildade faz-nos bem. Tive que experimentar o fado de Alfama para apreciar a luz da Praça do Comércio.

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