23 de março de 2012

Passividade radioactiva

Ultimamente sinto-me que estou a percorrer um deserto de aborrecimento e passividade, sempre interrompido pela recente notícia que o meu país é uma merda, que a crise ainda vai piorar e que a Cinha Jardim gosta muito das suas cadelas e não falo das filhas.

Começo-me a interrogar, agora que já sou crescido e licenciado, se é assim que a vida de um adulto deve ser. Uma longa viagem pela rotina vazia com os ocasionais altos do primeiro filho, primeiro divórcio e primeiro exame à próstata.

Foudasse.

Se calhar é.

Decidi então fazer algo para mudar isto. Então dei um tiro de caçadeira no meu próprio pé. Sem pé e magoado, cheguei à conclusão de que não foi grande ideia.

Então lá fui eu de pé coxinho até a um bar, pedir uma cerveja e uma vida. A vida não chegou, contentei-me com a cerveja.

E enquanto fui me deliciando com uma cerveja, meti-me a observar os meus colegas terrestres. Só vi gajas bonitas e boas, meti-me a pensar. "Epa, ó Pedro! Se calhar é isso, precisas de alguma companhia feminina, isso há-de te pôr no caminho, lá isso vai. Uma mocinha para te agarrares e esqueceres-te de tudo."

Se calhar não é assim tão má ideia. Cocei o pé que não tinha e mandei vir mais uma cerveja, de modo a potenciar o desenvolvimento desta excitante ideia que dança na minha cabeçola.

Péssima ideia, a cabeçola acelerou o passo de arranjar namorada para tudo o que vivi enquanto namorado.
Sou um desastre em tal coisa. Não percebo o que vai na cabeça das moças, não faço um esforço por tal e questiono-me constantemente o que tenho que dizer para voltarmos para a cama. Não sei escolher presentes, elas chateiam-se, não percebi o que elas queriam, elas chateiam-se, não me interesso por fofocas, elas chateiam-se.

Além do mais afasto sempre aquelas que gostam de mim e fazem-me bem e tento aproximar-me daquelas que me destroem por dentro. Sou um caso andante de romanticismo mainstream.

As relações amorosas com mulheres são como ficar preso em areia movediça. Quanto mais força fazemos para fugir, mais presos ficamos. E no final, a única forma de fugir é com um pau. E eu não estou muito virado para a homossexualidade. Se tivesse virado, tinha que ficar de costas.

Decidi parar de pensar nisso e fui de pé coxinho até casa. Subir as escadas foi digno de parkour.

Quando cheguei a casa liguei as notícias e soube da tal jornalista que levou de um polícia. Fiquei com nojo.

Nojo...Nojo? Nojo!
Uma emoção!
Estou vivo!

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