12 de novembro de 2014

A Este Nada de Novo

Coberto apenas com o espírito lusitano de exploração fui em direcção de Nowa Huta. Cedo fui interceptado por um polícia que me perguntou porque não vestia mais qualquer coisa para além do espírito lusitano.
Eu respondi em bom português (o que foi uma parvoíce já que o policia polaco só falava, no máximo, um português mitra), mas nenhuma justificação chegou ao agente, então tive que vestir mais qualquer coisa.
Aviso desde já que isto de estar num país estrangeiro com línguas estrangeiras e tentar comunicar leva sempre a que se perca qualquer coisa na tradução. Eu já perdi a carteira e um relógio.
Nowa Huta é um distrito caricato de Cracóvia. Foi criado pela U.R.S.S. para castigar o espírito lutador e intelectual dos cracovianos. Mas agora é o distrito mais habitado e parte integral de Cracóvia. Também é a sede dos saudáveis hooligans da zona. Desconheço onde é a fome.
O que tem de interessante é que toda a sua construção (arquitectura e planeamento urbano) é o sonho molhado de um projectista soviético.
O que não tem de interessante é que nem todos os resquícios soviéticos foram apagados, por mais que chamem à Praça Central de Praça Ronald Reagan.
Estou eu a beber do meu cantil de zupa grzybowa quando, do outro lado uma enorme estátua de metal, metade Lenine, metade Estaline surge. A multidão abriga-se nos Bares de Leite e nos fundos europeus.
O Super Lenine-Estaline grita e urre. Destruindo tudo à sua passagem. Eu não sabia o que fazer. Mas felizmente não estava sozinho. Convoquei um meet imperialista no facebook e do centro da praça surgiu um herói! Nem mais nem menos que Ronald Reagan (versão cowboy).
Senti-me aliviado, porque a mera presença do Super Lenine-Estaline já me está a influenciar a comprar o bilhete do avante e eu preciso do guito para pagar os impostos.
Ronald Reagan não veio sozinho, deve ter aprendido com os ciganos. Ao seu lado tinha o Pai-Natal da Coca-Cola, o Palhaço do McDonald’s e a Estátua da Liberdade:
Let’s kick some commie ass!” grunhiu Reagan. O Pai Natal abriu o seu saco e tirou de lá um bastão de aço, dizendo: “Ho! Ho! Santa wants to spill some red ideologist blood today.”, o palhaço cagou na cena e abriu um restaurante na esquina.
Quem atacou primeiro foi a Estátua da Liberdade, invocou o seu direito na cara do Super Lenine-Estaline. Com mestria segurou os braços do inimigo vermelho enquanto Reagan e Pai Natal abriram a cortina de ferro do monstro.
O Super Lenine-Estaline conseguiu ainda ensinar a uns seguidores lusitanos que o seu aproamento da teoria em nada a prejudica. Que feliz que fiquei!
Reagan e o Pai Natal continuaram a encher de porrada o bicho. Eu consegui engatar a Liberdade e agora é a Estátua Libertina. Levantar aquele vestido foi mais fácil que levantar a economia. BA-TCHUM-TCHUM! Eu estudo política bitches!
Eu tirei umas fotos bacanas, mas fiquei sem bateria no telemóvel, depois mostro. Acho que vou fazer uma de Jennifer Lawrence e pôr as fotos online e dizer que não as vi. Mamas e ética, um cocktail do qual, não só me orgulho, como também tenho uma t-shirt para celebrar o facto. Ou o fato. Um deles.
Enquanto isto se passou acho que o palhaço abriu mais uns restaurantes. Penso que até abriu um no meu bolso. Mas lixou-se, que os meus bolsos estão rotos.
Numa marcha triunfal, surgiram tanques ianques a disparar europoupanças para cima do inimigo soviético. O Super Lenine-Estaline comeu aquilo tudo e agora são só euroesperanças.
Felizmente, os capitalistas venceram a luta e a estátua foi desmontada e vendida a turistas ocidentais como souvenir. Um bom capitalista não partilha, faz share.
Um pouco por todo o mundo obesos com ipads celebram e abrem restaurantes de hambúrgueres artesanais.


Eu fiquei com o número da Estátua da Liberdade mas não vou ligar, não gosto de me sentir preso.




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